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Elas são antigas, estavam aqui há mais de 500 anos, antes do descobrimento do Brasil. Tinham suas penas utilizadas nas artes plumária dos indígenas. Porém o colorido das penas, a facilidade de adaptação ao cativeiro tornou as araras um motivo de grande cobiça para os Portugueses.

A caça, até a década de 1980, fez com que mais de 10 mil araras saíssem da natureza, o que a fez constar na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Levantamentos realizados na década de 80, colocaram as araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) no Apêndice I do CITES, no Red Data Book e na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Os principais fatores que levaram a espécie ao declínio foram a captura para o comércio nacional e internacional, a descaraterização do ambiente e a coleta de penas para confecção de souvenirs.

Em 1989, bióloga *Neiva Guedes ao encontrar um bando de araras-azuis no Pantanal encantou-se com a espécie, especialmente por saber que elas estavam fadadas a desaparecer da natureza. Em 1990, o Projeto Arara Azul nasceu de uma iniciativa pessoal de Neiva Guedes que passou a ser um exemplo de esforço e dedicação pela proteção da espécie na natureza.

Logo no começo dos seus estudos, Neiva Guedes considerou e passou a lidar com a espécie como uma bandeira para a conservação do Pantanal, aplicando a visão holística para a proteção do ecossistema. A bióloga defende que as ações nesse tipo de projeto não devem ser direcionadas exclusivamente à espécie, sendo importante considerar o meio ambiente como um todo. Portanto, ela enfatiza que a proteção e recuperação do habitat, a disseminação e a educação ambiental são ações que devem ser integradas na hora de se elaborar um plano de conservação. Ressalta a importância do trabalho conjunto de vários grupos: equipes de especialistas interdisciplinares, população local, voluntários, patrocinadores, entre outros.

Neiva sempre salienta a importância da arara-azul para o ecossistema, entre vários aspectos ela cita a importância da espécie como dispersoras de sementes e engenheiras ambientais. Segundo a cientista, as araras-azuis não iniciam uma cavidade, mas aumentam rapidamente, a partir de pequenas cavidades já iniciadas por outras espécies. Esta característica das araras é importante, pois torna possível a reprodução de mais de 40 outras espécies, que ocupam estas cavidades, assim como elas. A arara-azul, juntamente com as outras espécies da biodiversidade, compõem os importantes serviços ecossistêmicos, que sustentam a vida e proporcionando a humanidade os recursos necessários para a sua sobrevivência.

Com o seu esforço e empenho pela pesquisa e conservação, Neiva Guedes passou a conquistar parceiros e patrocinadores e formou uma equipe de trabalho. Em 2003, após inúmeras dificuldades em buscar apoio e patrocínios para a execução das ações do projeto, decidiu criar o Instituto Arara Azul, organização não governamental, de direito privado e sem fins econômicos, tendo como principal finalidade, a promoção da conservação ambiental. O Instituto passou a ser a Pessoa Jurídica do Projeto Arara Azul e de tantos outros que vêm sendo implementados.

Ao longo dos seus quase 35 anos de trabalho incansável no Pantanal, muitos resultados positivos foram obtidos. Entre as ações do Projeto Arara Azul em prol ao aumento e manutenção da espécie, estão os ninhos artificiais desenvolvidos e implantados ao longo dos anos, sendo uma tecnologia pioneira e inovadora que beneficia a espécie e tantas outras que passaram a ocupar estas cavidades. Também, o envolvimento da comunidade local, através da sensibilização, é outro fator essencial para as ações de proteção da espécie. Com isso o tráfico foi diminuindo e o aumento da população de araras-azuis no Pantanal foi constatado.

Em dezembro de 2014, e espécie foi retirada da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, porém os reflexos não foram animadores. O tráfico voltou a crescer, porque as punições ficam menos duras para os criminosos pegos com as aves ou seus ovos. Além disso, outros fatores têm deixado a espécie muito vulnerável, como as mudanças climáticas oriundas do aquecimento global, que afetam o sucesso reprodutivo, os desmatamentos, doenças pela baixa imunidade e os vastos incêndios que foram acentuados e graves em 2019 e 2020, tanto no Pantanal Sul como no Pantanal Norte, que dizimaram grandes áreas se suma importância para a espécie. Outro fator preocupante que Neiva Guedes vem concentrados os esforços para combater é o turismo não responsável que utiliza o animal silvestre como entretenimento, pois vêm potencializando problemas que afetam a espécie diretamente, como por exemplo as doenças.

Para minimizar e tentar reverter todos esses fatores que estão deixando a espécie tão vulnerável, Neiva Guedes e o Instituto Arara Azul vêm atuando em várias frentes, intensificando a pesquisa, reunindo pesquisadores de diferentes áreas, formando grupos de estudos, envolvendo e interagindo com os órgãos de proteção ambiental, com os órgãos de fiscalização, ONGs que possuem interfaces nesta missão e com a sociedade sensibilizada que sempre foi uma grande aliada. As Redes Sociais também vêm contribuindo fortemente no envolvimento da sociedade contemporânea, onde assumiram um papel fundamental, transpondo os limites dos relacionamentos interpessoais, passando a ser uma ferramenta importante, especialmente de sensibilização e conscientização de diferentes públicos. A possibilidade de levar a informação científica em uma linguagem acessível e de fácil compreensão, faz das redes sociais uma aliada importante dos projetos que visam a conservação da biodiversidade.

Neiva Guedes tornou-se uma referência internacional, sendo reconhecida por sua dedicação incansável ao dos anos de trabalho árduo e continuo. Um dos reconhecimentos mais recentes que queremos destacar foi uma homenagem feita pela Mauricio de Sousa Produções, por meio do projeto “Donas da Rua da Ciência”. Além de ser capa de um pôster especial, Neiva também passou a integrar o espaço virtual desse projeto da Turma da Mônica, criado em parceria com a ONU Mulher.

Neiva Guedes é um exemplo de cientista que marcou e marca a humanidade diariamente, sendo uma inspiração para todos, especialmente para meninas e mulheres que buscam uma sociedade mais justa e lutam por um ambiente equilibrado através da conservação da biodiversidade.

Atualmente o Instituto Arara Azul desenvolve vários Projetos de pesquisa e conservação, além do projeto âncora, o Arara Azul, desenvolve o projeto Aves Urbanas – Araras na Cidade, entre outros. Instituto também vêm atuando fortemente da área de advocacy e, especialmente, como indutor de políticas públicas, através do conhecimento científico gerado por Neiva Guedes, sua equipe e pesquisadores associados. Dentre seus importantes artigos está uma publicação na Nature, pelas Dra. Neiva Guedes e Dra. Eliane Vicente, que trata da intoxicação de araras azuis por organofosforados. Este é um importante subsídio e alerta para a formulação das políticas públicas que tratam do desenvolvimento socioeconômico e da conservação ambiental. Cabe ressaltar que a Scientific Reports – Nature e a Science são as revistas mais importantes para a Ciência, no Mundo.  Também, em março de 2021, foi sancionada a Lei Municipal nº 6.567 que reconhece o município de Campo Grande como a Capital das Araras e institui o dia 22 de setembro como o Dia Municipal de Proteção das Araras e que contou com o apoio do Instituto na sua formulação. O Projeto de Lei foi uma iniciativa da Prefeitura do município de Campo Grande e foi aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores. A lei vem como um reconhecimento do trabalho que o Instituto desenvolve através do Projeto “Aves Urbanas-Araras na Cidade”.

Para ser um parceiro do Instituto Arara Azul e fortalecer estes importantes resultados que a organização vem apresentando, existem várias formas de apoiar e interagir com a instituição, contribuindo com a execução das suas atividades. Além da sua política de patrocínio, existem campanhas e produtos para pessoas e empresas que demonstrarem a sua responsabilidade socioambiental com a sociedade. Através do site, é possível acompanhar e optar em como ajudar: https://www.institutoararaazul.org.br/como-ajudar/

Fonte: Arquivos do Instituto Arara Azul

 

Texto por: Eliza Mense

Bióloga, pós-graduada em educação ambiental e gestão empresarial, com 36 anos de experiência em gestão de projetos sociais e ambientais. Desde 2014, faz parte da Diretoria Executiva do Instituto Arara Azul, desenvolvendo ações de gestão e de sustentabilidade financeira para a execução de projetos de pesquisa e conservação.